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Maranhão

Preso na Farra do INSS pagou R$ 7 milhões a Sarney Filho

Redação

Preso na Farra do INSS pagou R$ 7 milhões a Sarney Filho

O ex-ministro do Meio Ambiente e ex-deputado federal José Sarney Filho, o Zequinha Sarney, recebeu em março uma transferência de R$ 7,5 milhões do empresário Maurício Camisotti, um dos principais investigados na Farra do INSS.

A informação consta de um Relatório de Inteligência Financeira (RIF) recebido pela CPMI do INSS do Congresso Nacional, ao qual o portal de notícias Metrópoles, revela que teve acesso com exclusividade. O relatório não traz informações sobre qual seria o motivo do pagamento.

A transferência a José Sarney Filho aparece no RIF sobre uma das empresas de Camisotti, a Rede Mais Saúde Ltda. O pagamento foi realizado em 17 de março deste ano, semanas antes da deflagração da Operação Sem Desconto da Polícia Federal (em 23 de abril). O montante exato foi de R$ 7.566.054,15, destinado à empresa SF Consulting Serviços Ltda., pertencente a José Sarney Filho.

“Não é verdade que eu tenha recebido qualquer recurso de Maurício Camisotti. A minha empresa de consultoria firmou contrato com a Rede Mais Saúde LTDA, que tem como CEO e administrador o Sr. Paulo Camisotti e o contrato não tem absolutamente nenhum vínculo com o Sr. Maurício e muito menos com o INSS”, disse Sarney Filho à coluna.

Perguntado sobre o que faz sua consultoria, o ex-ministro disse: “Criei recentemente. É uma consultoria de assuntos administrativos, de muitas coisas. É bem ampla, bem legal”.

Segundo o RIF, elaborado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), a empresa que fez o pagamento a José Sarney Filho era abastecida por entidades de fachada de Camisotti, responsáveis por descontos ilegais em benefícios de aposentados.

“Suspeitamos que a empresa (Rede Mais Saúde) é utilizada para blindagem do patrimônio da família Camisotti, sendo possivelmente abastecida por verbas oriundas do esquema de descontos ilegais na folha de pagamento de aposentados”, diz um trecho do RIF.

José Sarney Filho, também conhecido como Zequinha Sarney, é filho do ex-presidente José Sarney. Foi deputado federal pelo Maranhão por nove mandatos, de 1983 a 2019. Ligado às pautas ambientais, foi ministro do Meio Ambiente no governo Michel Temer (MDB), de 2016 a 2018, e, mais recentemente, comandou a mesma pasta no governo do Distrito Federal (2019-2023).

A SF Consulting, empresa que recebeu o pagamento, foi aberta em março de 2023. Zequinha Sarney é o único proprietário. A sede fica na Asa Norte, em Brasília (DF).

A reportagem também não conseguiu contato com Maurício Camisotti, que está preso desde meados do mês passado.

Quem é Maurício Camisotti na “Farra do INSS”

Maurício Camisotti é um dos principais investigados na Farra do INSS. O empresário é dono de várias empresas da área de seguros e planos de saúde. Foi preso pela Polícia Federal em 12 de setembro deste ano e deverá ser ouvido pela CPMI do INSS — o pedido para sua oitiva foi aprovado na quinta-feira (2/10).

Segundo a PF, Camisotti controlava três entidades que, juntas, receberam mais de R$ 1 bilhão desde 2021 no esquema de descontos sobre aposentados.

Como revelou o Metrópoles, as entidades Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambec), União dos Aposentados e Pensionistas do Brasil (Unsbras) e Centro de Estudos dos Benefícios dos Aposentados e Pensionistas (Cebap) tinham como dirigentes funcionários e parentes de executivos do grupo empresarial de Camisotti.

Aberta em junho de 2012, a Rede Mais Saúde é uma entre dezenas de CNPJs ligados a Maurício Camisotti e seus familiares. A administração está em nome de Paulo Otávio Montalvão Camisotti, filho de Maurício.

Entre os RIFs recebidos pela CPMI do INSS até agora, o de Camisotti é um dos mais robustos: o levantamento identificou transações de milhões de reais em diversas contas correntes.

À época da prisão de Camisotti, a defesa alegou que não há qualquer motivo que justifique sua prisão no âmbito da operação relacionada à investigação de fraudes no INSS. Os advogados disseram que houve arbitrariedade cometida durante a ação policial.

“Camisotti teve seu celular retirado das mãos no exato momento em que falava com seu advogado. Tal conduta afronta garantias constitucionais básicas e equivale a constranger um investigado a falar ou produzir prova contra si próprio”, disse a defesa do empresário, em nota divulgada à época.