Recusa de Pedro Lucas em assumir o Ministério das Comunicações expõe o governo federal e deixa Lula furioso
A negativa do deputado Pedro Lucas Fernandes (União Brasil-MA) ao convite para assumir o Ministério das Comunicações provocou um abalo nas articulações políticas do Palácio do Planalto e expôs publicamente a fragilidade da base aliada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A recusa, oficializada após quase duas semanas de indefinição, deixou o presidente furioso e escancarou as dificuldades do governo em consolidar alianças num Congresso cada vez mais fragmentado. Pedro Lucas havia sido anunciado para o cargo pela própria ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, após reunião com Lula no Palácio da Alvorada, em 10 de abril.
No entanto, o deputado decidiu permanecer na liderança do União Brasil na Câmara, afirmando que sua atuação seria mais eficaz nesse posto. “A liderança me permite dialogar com diferentes forças políticas, construir consensos e auxiliar na formação de maiorias em pautas importantes para o desenvolvimento do Brasil”, declarou. A decisão gerou constrangimento para o governo e reforçou o discurso de desorganização na articulação política. Auxiliares do presidente classificaram a situação como uma “trapalhada” e “desrespeitosa”, sobretudo pelo fato de o convite ter sido feito publicamente. Segundo relatos à imprensa, Lula teria ficado irritado com a reviravolta.
A recusa ganhou contornos ainda mais complexos diante da posição ambígua do União Brasil na base governista. Com 59 deputados, o partido abriga alas próximas ao Planalto, outras alinhadas à oposição e uma terceira que flerta com candidatura própria à Presidência em 2026. Esse cenário dificulta a formação de uma maioria estável e tem gerado frustração no Executivo, que não vê retorno nas votações no Congresso.
A negativa de Pedro Lucas também escancarou o racha interno na legenda. Aliado de Lula, o senador Davi Alcolumbre defendia a indicação do deputado e chegou a articular para que Juscelino Filho — ex-ministro das Comunicações, que deixou o governo após denúncia da Procuradoria-Geral da República — assumisse a liderança da bancada. A proposta, porém, foi rejeitada por boa parte dos parlamentares.
Pressionado internamente, Pedro Lucas buscou apoio de lideranças do partido antes de tomar sua decisão. Durante esse período, evitou o Congresso e reuniões partidárias. A recusa definitiva veio após conversas com Rueda e Alcolumbre, que avaliaram os riscos políticos do movimento.
A escolha do novo ministro das Comunicações recaiu sobre um nome técnico indicado por Alcolumbre — o de Frederico de Siqueira Filho, que dirigia a Eletrobras —, com o objetivo de evitar novos desgastes para o governo. O presidente Lula tenta conter a crise e recuperar o controle da pauta no Congresso, especialmente em um momento de baixa popularidade e com a perspectiva de disputar a reeleição em 2026.